sexta-feira, 6 de maio de 2011

Espetaculo: Besouro Cordão de Ouro




Logo na entrada do teatro de arena do CCBB entramos em contato com o prólogo da peça de Paulo César Pinheiro, com direção de João das Neves e participação de grandes capoeiristas da atualidade como Mestre Camisa e Mestre Casquinha.

No vestíbulo do teatro, antes de se adentrar à cena, uma atriz narra o episódio da morte do grande capoeirista Besouro Mangangá diante de seu caixão e outra passa uma bandeja de copinhos de cachaça oferecendo ao público “beber o morto”, costume antigo e sui generis de expressar condolências: beber uma cachaça em memória do falecido. Daí em diante a peça narra as façanhas do grande capoeirista baiano imortalizado na canção Lapinha de Baden Powell com letra do próprio Paulo César Pinheiro.

O público de espalha sentado em esteiras, misturado aos próprios atores, dançarinos e músicos tal qual numa autêntica roda de capoeira. Trabalho de pesquisa de grupo e de resgate de nossa memória, sobretudo do sentido antropológico da dança de capoeira, um jogo de roda que pode se transformar numa luta fatal. Tanto é que se diz mais “jogar” do que lutar capoeira, dança surgida nas senzalas da Bahia e do Rio de Janeiro, padrão da ginga e da malemolência dos malandros mulatos brasileiros.

No texto de apresentação Paulo César Pinheiro nos fala que a peça foi um ensaio para o filme!

QUEM FOI BESOURO?

A palavra capoeirista assombrava homens e mulheres, mas o velho escravo tio Alípio nutria grande admiração pelo filho de João Grosso e Maria Haifa. Era o menino Manoel Henrique que, desde cedo, aprendeu, com o mestre Alípio, os segredos da capoeira na rua do Trapiche de Baixo, em Santo Amaro da Purificação, sendo batizado como Besouro Mangangá por causa da sua facilidade em desaparecer quando a hora era para tal.

Muitos e grandiosos feitos lhe são atribuídos. Diziam que não gostava da polícia (que diversas vezes frustrou-se ao tentar prendê-lo), que tinha o "corpo fechado" e que balas e punhais não podiam feri-lo. Certa época, quando Besouro trabalhou numa usina, por não receber o ordenado, segurou o patrão pelo cavanhaque e o obrigou a pagar o que lhe devia.

As circunstâncias de sua morte são contraditórias. Há versões que afirmam que Besouro morreu em um confronto com a polícia; outras, que foi traído, com um ataque de faca pelas costas. Esta última é muito cantada e transmitida oralmente na capoeira. Um fazendeiro, conhecido por dr. Zeca, após seu filho Memeu ter apanhado de Besouro, armou uma cilada, mandando-o entregar um bilhete a um amigo que administrava a fazenda Maracangalha. Tal bilhete pedia para que seu portador fosse morto. Besouro, analfabeto, não pôde ler que aquele bilhete era endereçado ao seu assassino e que esclarecia que o portador era a vítima, ou seja, ele próprio. Assim, no dia seguinte, ao voltar para saber a resposta, quarenta soldados o estavam esperando. Um homem conhecido por Eusébio de Quibaca acertou-lhe nas costas com uma faca de tucum (ou ticum), um tipo de madeira, tida como a única arma capaz de matar um homem de corpo fechado.

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